Essa semana entendi o tal do tão falado gatilho.
Se na etimologia da palavra, seu significado é o que faz disparar o tiro em uma arma de fogo; no novo popular, significa um lembrete de uma forte emoção, de uma dor emocional ou até mesmo de um trauma passado; que pode levar uma pessoa a sentir tristeza, raiva, medo, ansiedade ou pânico; além de fazer com que alguém tenha flashbacks e reviva esses momentos no presente.
O termo, que caiu num clichê barato e mal usado como tantos outros (empoderamento, tóxico etc); só fez real sentido para mim quando, no meio de um quase ataque de ansiedade, percebi que aquela exata situação havia me transportado à Talita do passado, que também sofrera em silêncio por aquele mesmo motivo, em situações bastante semelhantes: a REJEIÇÃO.
Por diversos fatores, sentir-me rejeitada é o meu calcanhar de Aquiles; é a onde a coisa me dói profundamente, onde perco a razão e me torno um poço de emoções venenosas, temperada com a raiva, insegurança e agressividade. É no que menos me reconheço, onde aflora um eu complementarmente não eu. E isso me faz sentir a pior pessoa do mundo. Então, me sinto culpada por isso e entro neste ciclo vicioso sem fim, que só me leva para baixo e para o isolamento.
Ao longo de toda minha vida, deixei que as pessoas ocupassem o palco da minha vida, me colocando nos papéis coadjuvantes, na plateia, na coxia ou até mesmo nos bastidores. Porque antes assistir alguém brilhar no meu lugar, do que correr o risco de ser rejeitada: e se não me aplaudirem? E se me vaiarem? E se minha arte não agradar a todos? E se eu desagradar alguém?
Por isso, sempre fui a filha boazinha, a irmã que não dá problemas, a prima que não reclama, a sobrinha que obedece, a amiga que não dá trabalho, a profissional que faz tudo certinho....
Todos os dias eu me levanto da cama e me comprometo a ser uma pessoa melhor: fazer o bem, respeitar o próximo, não prejudicar ninguém. E em algum momento, sinto que as pessoas - intencional ou não intencionalmente - se aproveitam disso, e acabam pisando naquele calcanhar ferido, abrindo um buraco dentro de mim.
Por isso, por anos aceitei em silêncio relacionamentos amorosos às escondidas, fingi que não me importava quando não era convidada para determinados programas, relevei alguns desconvites, aceitei ser deixada de lado e trocada por outras pessoas; e tanta outras situações que faziam eu me sentir diminuída e humilhada.
O problema é que quando a gente amadurece e aprende a se conhecer e a se respeitar, também aprendemos a nos reconhecer nesses lugares que não queremos voltar mais. E também aprendemos que é possível demonstrar e verbalizar isso de maneira sincera e não-violenta (pelo menos é a ideia).
E estaria tudo certo, por que é isso aí: caminho de aprendizagem, lidando com erros para que se tornem acertos e vida que segue. O problema é deixar isso claro para as pessoas que conviveram conosco a vida inteira e só conhecem aquele nosso ‘EU de antigamente’: elas não estão preparadas para essas mudanças, porque são mudanças boas PARA NÓS, mas muitas vezes é ruim para os outros, já que é agora nós determinamos - ou tentamos - quais são os nossos limites.
E por mais que me doa e que eu ainda morra de medo de ser rejeitada, tenho deixado claro que daqui essas pessoas não passam. E tem ainda o lance de sustentar isso e manter o respeito a mim mesma.
Descobrir-se como indivíduo é um processo doloroso e necessário porque pessoas que agradam demais (as chamaas people pleasure) - como eu - tendem a ter excesso de empatia e um temor de parecer (ou até mesmo ser) egoísta. Afinal, o bem estar do outro importa. Mas desde que isso não signifique passar por cima do seu próprio bem estar.
Isso não significa que agora que entendo mais sobre mim e sobre meus limites, preciso virar uma pessoa egoísta, grosseira e babacona; e nem muito menos ultrapassar os limites dos outros. Essa linha é tênue e caminhar sobre ela com leveza é buscar o equilíbrio.
As pessoas não estão no mundo para satisfazer as nossas vontades ou nos servirem. As pessoas estão no mundo para servirem cada uma ao seu propósito individual com responsabilidade coletiva. E é papel de todos nós entender e respeitar isso de maneira educada e gentil; conosco e com os outros.
Eu sei que o mundo não é um lugar sempre legal e cheio de pessoas bacanas. Não sou tão poliana a ponto de acreditar que podemos todos nos dar as mãos e cantar “We’re the world” e viver felizes para sempre. Mas a maldade alheia ou as adversidades da vida não devem pautar nossa maneira de nos relacionar com o mundo e muito menos com as pessoas.
Então, se alguém te fez mal, ou te transportou para aquele seu lugar ruim, para uma sensação que não foi boa, ou te trouxe lembranças físicas, emocionais e afetivas de algo que te faz mal; e isso te causou sofrimento, dor, mal estar...
Bom, pare, respire, concentre-se e lembre-se de quem você é agora e de como chegou até aqui. Porque é isso que vai te trazer ao centro e te impedir que as pessoas te carreguem para o seu eu do passado, para aquele momento de dor e humilhações. E é essa percepção que vai te impedir de ser aquela pessoa do passado, porque agora você é do seu presente.
E é justamente aí que surgem os tais limites: é aí que você vai conseguir dizer não, expressar que está chateada, conseguir chorar, viver o luto etc. E, de repente, a mágica toda acontece e você entende que cresceu no espírito e amadureceu nas emoções. E que a maldade do outro não te definiu como uma pessoa ruim; e que nada e nem ninguém vai conseguir nos derrubar de novo depois que você aprendeu o caminho para longe de onde jamais quer voltar e de quem nunca mais quer ser.
A vida é para frente. E, como disse C.J Tudor: “o passado é apenas uma história que contamos a nós mesmos.” E por mais que isso seja incômodo aos outros, agora conto uma nova história para mim mesma.
Amadurecer dói mas também traz um monte de coisas boas e estabelecer limites é a principal dessas coisas. 😉♥️
Refletir, ponderar e agir…esse é o caminho. Coragem, a base de tudo!
O importante é curtir 😚💖🌟